09 setembro 2006

Cinco Anos

Cinco anos depois do 11 de Setembro, uma série de mitos e meias-verdades foram se instalando no imaginário colectivo. Se alguns são fruto de alguma ingenuidade, outros enfermam de uma desonestidade e falta de escrúpulos assustadores.

Um exemplo simples é a teoria tão em voga em alguns círculos, de que logo após os ataques ao World Trade Center, os americanos teriam recebido um unânime apoio e solidariedade e que teria sido o unilateralismo belicista de George Bush que teria deitado tudo a perder. Para comprovar a tese, é citada amiúde, a famosa manchete do Le Monde de 12 de setembro de 2001 que estampava a frase «Somos Todos Americanos».

O problema desta teoria tão bela e simplista é que pura e simplesmente é falsa!

E é aqui que entra a questão da desonestidade intelectual.
Porque quem pretenda olhar para os factos como eles realmente são, lembra-se perfeitamente que os corpos das milhares de vítimas de Nova York e Washington ainda estavam quentes, e já uns dedicados «analistas independentes» esforçavam-se a justificar, compreender, contextualizar, explicar e relativizar o morticínio americano.

Condenações inequívocas é que se viram poucas!

Em Portugal no próprio dia dos acontecimentos não faltaram os sábios de costume, que mal conseguindo disfarçar a sua alegria com o que viam, proclamavam a inevitabilidade dos atentados pela política externa americana, chegando a atribuir a Bush, que estava no poder há apenas oito meses, a responsabilidade moral da chacina. Não foi à toa que António Barreto desabafava no Público, cinco dias depois dos atentados, a sua revolta pela desavergonhada reacção que algumas infames figuras da nossa vida pública demonstravam.

Um conhecido meu, membro dedicado da ortodoxia do PCP, contava-me dois dias depois dos atentados, que tinha assistido ao vivo com alguns camaradas, a derrocada da segunda torre e que então tinham comemorado efusivamente o alegre acontecimento! Esse aliás foi o sentimento reinante nos chamados meios engajados que um pouco por todo o lado «lutam» por um «mundo melhor»!

E as vítimas? Ah as vítimas! Não faltaram desde então as contabilidades perversas a demonstrar que os milhares de mortos do 11 de Setembro eram apenas uma pequena cifra quando comparadas às vítimas dos pérfidos ianques. E por magia logo muitos se lembraram que foi num 11 de Setembro que Pinochet derrubou Allende com o apoio da CIA!

Estão a ver a mensagem ? No fundo os «américas» mereceram a «lição»!

Outro aspecto curioso, é que foram precisos muitos meses e dezenas de confissões de Bin Laden e seguidores, para que algumas almas se convencessem da autoria dos atentados. Sim! Porque nos dias que se seguiram logo apareceram iluminados a atribuir à Mossad e à CIA a responsabilidade pelo sucedido. Um imbecilzinho qualquer do Bloco de Esquerda chegou até a dizer à comunicação social, após um encontro com um representante da OLP, que existiam provas de que se tratava de uma conspiração dos Serviços Secretos israelitas para culpabilizar os árabes e assim ter um pretexto para atacar o Afeganistão!

Depois de inequivocamente comprovada a autoria da matança, não me lembro de ter ouvido de nenhum desses senhores um único pedido de desculpas ou um simples mea-culpa. Nada! Mas não passa um único dia em que os mesmos não exijam uma retratação das forças da coligação pela inexistência de armas de destruição maciça no Iraque. Esse mesmo Iraque de Saddam Hussein retratado pelo ídolo Michael Moore como um lugar quase idílico...

Por tudo isso não me venham com a treta da solidariedade global para com os EUA no 11 de Setembro. Porque foram muitos os que comemoraram a destruição e a morte semeada pelos terroristas, e que no seu íntimo tomaram como suas as palavras escritas numa faixa afixada nos arredores da Universidade de São Paulo: «Obrigado Osama!»

(Post requentado)