
E é nesse espírito que o autor candiano de origem argentina, se apresenta neste misto de diário de leitura, bloco de notas e crítica literária.
Como pano de fundo, um profundo amor pelos livros.
É verdade que esta obra não tem a mesma força do seu mais popular trabalho, o imprescindível Uma História da Leitura (Lisboa:Ed.Presença,1998), cuja primeira parte consiste numa das mais fascinantes narrativas já feitas sobre o prazer dos livros e da literatura.
Mas mesmo não sendo brilhante, não deixa de ser saboroso acompanhar Manguel - um assumido bibliófilo - pelas páginas de Cervantes, Conan Doyle, Bioy Casares, Machado de Assis, Goethe e outros.
Tudo mesclado com reflexões sobre a vida, o estado do mundo - a Guerra do Iraque está sempre presente - e as observações do autor, a respeito das suas múltiplas peregrinações, que nos levam de Buenos Aires ao interior de França com várias paragens pelo meio.
Sobre Portugal algumas passagens nem sempre acertadas.
Fala de Coimbra e sua «refinada biblioteca barroca», cita uma passagem dos Lusíadas a respeito do deslumbramento do poder, mas confunde D.Sebastião com D.Manuel II.
Manguel diz que «a leitura é uma conversa». Aqui registou uma dúzia desses diálogos. Só é pena que se tenha limitado aos doze meses do ano...!
(MANGUEL, Alberto, Os Livros e os Dias, São Paulo: Companhia das Letras, 2005)