23 outubro 2006

Os Livros e Os Dias

Numa feliz caracterização, George Steiner definiu Alberto Manguel como o D.Juan das Bibliotecas.

E é nesse espírito que o autor candiano de origem argentina, se apresenta neste misto de diário de leitura, bloco de notas e crítica literária.

Como pano de fundo, um profundo amor pelos livros.

É verdade que esta obra não tem a mesma força do seu mais popular trabalho, o imprescindível Uma História da Leitura (Lisboa:Ed.Presença,1998), cuja primeira parte consiste numa das mais fascinantes narrativas já feitas sobre o prazer dos livros e da literatura.

Mas mesmo não sendo brilhante, não deixa de ser saboroso acompanhar Manguel - um assumido bibliófilo - pelas páginas de Cervantes, Conan Doyle, Bioy Casares, Machado de Assis, Goethe e outros.

Tudo mesclado com reflexões sobre a vida, o estado do mundo - a Guerra do Iraque está sempre presente - e as observações do autor, a respeito das suas múltiplas peregrinações, que nos levam de Buenos Aires ao interior de França com várias paragens pelo meio.

Sobre Portugal algumas passagens nem sempre acertadas.

Fala de Coimbra e sua «refinada biblioteca barroca», cita uma passagem dos Lusíadas a respeito do deslumbramento do poder, mas confunde D.Sebastião com D.Manuel II.

Manguel diz que «a leitura é uma conversa». Aqui registou uma dúzia desses diálogos. Só é pena que se tenha limitado aos doze meses do ano...!

(MANGUEL, Alberto, Os Livros e os Dias, São Paulo: Companhia das Letras, 2005)