25 maio 2006

Justiça Para Valdir Perez

Em vésperas de Copa do Mundo um post requentado:

Conta a história que em 1994 ao ser barrado numa visita à concentração da Selecção Brasileira, o antigo guarda-redes Barbosa, titular na Copa de 50 na célebre derrota com o Uruguai, terá lamentado:

«A pena máxima no Brasil é de 20 anos. Eu estou sendo punido há 44!»

É essa a sina da mais ingrata posição do futebol. Transitam de bestiais a bestas em poucos minutos...

Se procurarmos nas últimas décadas o exemplo de um goleiro injustiçado pelo mundo do futebol, o seu nome é sem dúvida Valdir Perez, titular tricolor durante vários anos e goleiro principal na mítica equipa canarinho de 1982.

E não o digo na condição de são-paulino.

Sou o primeiro a reconhecer que pelo Morumbi têm passado ao longo dos anos muitos e diversificados cabeças-de-bagre. Não nego porém, que continuam frescas na minha memória as muitas épocas exemplares de Valdir na defesa da baliza tricolor e principalmente suas magníficas exibições com a camisa do Brasil.

Valdir Perez era incontestavelmente o melhor guarda-redes brasileiro em 1982. Há vários anos destacava-se pela sua segurança, qualidade e incrível habilidade para defender penalties, quer actuando pelo São Paulo (auxiliado por Oscar e Dario Pereyra naquela que foi provavelmente a melhor zaga da história do futebol), quer jogando pela mágica selecção canarinho de Zico, Falcão e Sócrates. Apesar da enorme concorrência de goleiros de primeira como Leão, Carlos e Paulo César, Telê Santana agiu correctamente ao entregar a titularidade a Valdir. Era o melhor!

Acontece que o homem teve um momento infeliz. Diria até trágico! E ficou assim com uma condenação eterna.

Desde aquele fatídico frango contra a União Soviética na estréia da Copa da Espanha, nunca mais foi absolvido. Ninguém o quis perdoar.

Apesar do seu passado no São Paulo e na Selecção, apesar da estupenda exibição que salvou o Brasil nessa mesma Copa contra a Argentina de Maradona, apesar de não ter tido culpa nenhuma na derrota para a Itália de Paolo Rossi, Valdir Perez ficou irremediavelmente carimbado no imaginário do futebol, e em especial dos que nunca o viram jogar, como um tenebroso frangueiro.

Mesmo em Portugal quando se fala com nostalgia do fabuloso escrete de 82, uma das melhores equipes da história do futebol, é comum ouvir algum comentário sobre a fragilidade do guarda-redes brasileiro. Não se fala do erro de Toninho Cerezzo no jogo decisivo, nem do total apagamento do centroavante Serginho durante todo o certame. Apenas Valdir Perez é lembrado e sempre na galeria dos malditos.

É altura de o reabilitar. É altura de fazer justiça a um dos melhores guarda-redes brasileiros de sempre.

É altura de pedir desculpas a Valdir Perez...