24 janeiro 2006

A Aventura de Mário Soares

A estrondosa derrota de Mário Soares nas eleições presidenciais ocupará apenas algumas linhas na sua biografia.

A sua figura tem grandeza histórica suficiente para ultrapassar este infeliz episódio e se é verdade que foi uma pena ter terminado de forma tão patética, o certo é que no deve e no haver o seu saldo ainda é positivo.

Foi uma candidatura sem sentido, sem justificação, sem méritos. Uma loucura a que Soares se entregou num momento de pouca lucidez e a que foi levado por uma corte de bajuladores que se dizem seus amigos.

Acreditavam numa hipotética «vaga de fundo» que o levaria de volta a Belém e o que encontraram foi uma repulsa generalizada que pulverizou em meses uma sólida popularidade construída ao longo de anos.

A campanha suicida marcada por uma agressividade sem limites, uma permanente crispação e uma postura carregada de ódio, como a que se viu no debate com Cavaco Silva, levaram ao desaire e à suprema humilhação que foi a ultrapassagem por Manuel Alegre.

Encerrado o episódio Mário Soares recuperará algum prestígio. Mas nunca mais voltará a ter o mesmo poder e influência. Já faz parte da História.

E se a História enaltecerá a sua luta contra o salazarismo, a sua relevância na consolidação democrática no pós-25 de Abril e os seus anos de Presidência, olhará com desdém para a radicalização dos últimos anos que culminou nesta desastrada candidatura.