
Foto de Caio Reisewitz
(Post Requentado)
Correndo o risco de passar por doido, caso algum brasileiro leia este post, quero confessar aqui publicamente que morro de saudades das campanhas eleitorais tupiniquins!
E em particular do Horário Eleitoral Gratuito conhecido em Portugal pelo apelido de Tempo de Antena.
Nos meus tempos de menino no Brasil delirava com a novidade que me permitia assistir durante dois longos meses, num simultâneo de rádio e televisão, com todos e canais e estações transmitindo sem excepção, um imenso mosaico humano que através das mais estapafúrdias propostas, dos mais abjectos insultos, da manipulação mais infame, procurava vender seu candidato aos incautos eleitores.
E no entanto confesso envergonhado a minha nostalgia!
Como esquecer a bizarra figura de Rivailde Ovídio que em 1985 abrilhantou a campanha para a Prefeitura de São Paulo que marcou o regresso triunfal de Jânio Quadros frente ao futuro Presidente Fernando Henrique Cardoso ?
«Onde está você Franco Montoro?» gritava Rivaílde procurando assim «denunciar» a impotência do então Governador paulista perante a escalada da violência urbana.
Como não recordar a baixaria generalizada da Campanha de 1986 que colocou na mesma corrida para o Governo do Estado de São Paulo, o mega-empresário António Ermírio de Morais e dois dos maiores facínoras já produzidos pela política brasileira: Os famigerados Orestes Quércia e Paulo Maluf .
E o que dizer da incrível vitória de Luiza Erundina que se tornou em 1988 a primeira mulher a comandar a maior cidade do Brasil e da memorável campanha presidencial de 1989 que devolveu à sociedade civil o direito de escolher de forma democrática o seu Presidente. É verdade que essa mesma sociedade preteriu um político da craveira de Mário Covas, enviando para a segunda volta o radicalismo do PT ( Perto do qual o actual petismo - apesar de corrupto - parece reacionário...) e a aberração Fernando Collor de Mello.
Adoro notas de rodapé !
Aliás não concebo um ensaio, uma tese ou uma obra de investigação que não indique as fontes e as origens da informação apresentada. Sem isso, um texto por mais interessante que seja, perde toda a consistência.
Correndo o risco de ser rotulado de «neopositivista», a primeira coisa que faço ao folhear um livro de História (ou de qualquer outra das Ciências Sociais e Humanas), é observar a sua bibliografia e a existência ou não de notas de rodapé. Se estas estiverem ausentes, é meio caminho para o livro voltar para a estante ou pilha onde o encontrei!
E mais...
Para mim as notas devem estar no fim da página e nunca no fim do livro!
As notas no final da obra, apenas perturbam a leitura e saturam pela constante consulta no fim do volume.
Obviamente existem excepções.
Posso citar como exemplos os excepcionais títulos Introdução à História do Nosso Tempo de René Remond (Lisboa: Gradiva, 1994) e Da Alvorada à Decadência de Jacques Barzum (Lisboa: Gradiva, 2003).
Em ambos os casos, falamos de monumentais obras de síntese, de historiadores de primeira linha, que explicam na introdução o porque da total ausência de notas (Remond) e da sua localização no final (Barzum). Pela imensa qualidade dos autores e dos textos pode-se dizer que mesmo no primeiro caso o rigor não ficou comprometido.
Magnoli: O capítulo sobre a Guerra do Paraguai, do historiador Francisco Doratioto, está dedicado justamente a dissolver o mito de que esse conflito resultou essencialmente dos interesses britânicos na América do Sul. Sem dúvida, a Grã-Bretanha apoiou a Tríplice Aliança, mas a guerra decorreu do choque entre os interesses nacionais dos seus participantes. Ela é um evento secundário na política mundial do século XIX, mas um evento decisivo na configuração dos Estados nacionais brasileiro e argentino. A Guerra do Paraguai consolidou a unidade do Brasil e a unidade da Argentina. Ela fechou as portas à constituição de um grande Estado platino em torno do Paraguai e dos seus aliados uruguaios. Toda a geografia política da região platina foi desenhada nesse conflito.
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